Após a implantação de um pacemaker ou de um cardioversor-desfibrilhador, o doente pode sentir-se hesitante no reinicio de actividade física ou ficar preocupado com a capacidade em o dispositivo conseguir atingir a frequência cardíaca necessária para o esforço ou aplicar choques durante o esforço físico.

Na maioria dos casos, o doente poderá retomar – após algumas semanas de recuperação – a prática de exercício físico.


Contudo, existem algumas preocupações a ter, devendo alguns aspectos ser discutidos com a equipa de Arritmologia do Hospital dados os potenciais riscos de participação em desportos.


Sabemos que, nos doentes portadores de dispositivos cardíacos electrónicos implantáveis que participam em atividades desportivas, existe um aumento da probabilidade de Arritmias ventriculares e a potencial incapacidade de o CDI terminar Arritmias Ventriculares (devido a diversos factores fisiológicos como as catecolaminas elevadas, temperatura corporal, etc…), bem como o risco de lesões devido à síncope ou aos choques do CDI, o potencial para Lesão traumática do gerador ou dos electrocateteres (conduzindo a disfunção do dispositivo) ou até a ocorrência de Choques Inapropriados.


Deve ser esclarecido, no entanto, que o risco mais importante é conferido pela doença de base, que motivou a implantação do dispositivo.


Algumas situações patológicas, levam a que seja contraindicada a participação em atividade desportiva, dado o risco de surgimento de arritmias graves, como são o caso da Taquicardia Ventricular Polimórfica catecolaminérgica, a Displasia Arritmogénica do ventrículo direito (miocardiopatia arritmogénica) e alguns casos de Doença coronária (embora esta última menos preocupante desde que o doente seja avaliado com prova de esforço periodicamente).


Para além da doença de base e especificamente devido à existência de um dispositivo implantado, os seus portadores devem restringir a prática de alguns desportos, em que exista risco de impacto corporal (como as artes marciais, rugby, etc...), devido à possível ocorrência de fractura de electrodos, perfuração da pele (por vezes tardia) e até disfunção do dispositivo.


Em certos desportos, como o futebol ou o basquetebol, existem disponíveis equipamentos com proteções acolchoadas, que permitem a determinados doentes a diminuição dos riscos da prática do seu desporto de eleição.


Para prevenção de lesão do gerador e dos electrocateteres, é também importante evitar os movimentos extremos do membro superior do mesmo lado da implantação do dispositivo (certamente em todos os doentes nas 6 semanas após a implantação).


Desportos que exijam, movimentos repetidos e pronunciados do braço (como o voleibol, basquetebol, ténis, escalada, golf, ballet, natação, etc...), podem estar contraindicados em definitivo, dado o risco tardio de lesão dos electrocateteres devido a esmagamento subclávio (perda de isolamento e lesão condutores).


As linhas de orientação clínica, emanadas pela Associação Americana do Coração, especificam que o doente pode participar em atividades desportivas se não existir doença cardíaca estrutural de base ou sintomas. Já os doentes dependentes do pacemaker, devem evitar os desportos com elevado risco de colisão.


Os doentes não-dependentes de Pacing, podem participar, se estiverem dispostos a aceitar risco de colisão e lesão do sistema.


No que diz respeito aos doentes portadores de cardioversor-desfibrilhador, estas diretrizes clínicas afirmam que é aceitável a participação em desportos de baixa intensidade (como o golf, o bowling ou o yoga) se o doente não tiver registos de arritmias ventriculares nos últimos 3 meses.


Num importante registo multinacional, publicado em 2013 e em que foram registados os dados de 372 atletas, não foram observados casos de morte ou de paragem cardiorrespiratória com necessidade de reanimação, tendo no entanto ocorrido mais casos de choques durante o esforço, mas sem diferença entre competição e outras actividades fisicas de recreio (choques durante atividade desportiva ou atividade física vs repouso 16 vs 6% respectivamente) Nas linhas de orientação da Sociedade Europeia de Cardiologia, encontramos a referencia de que a presença de um CDI desqualifica o atleta para atividade competitiva, excepto, se for de baixa intensidade (semelhante à recomendação da Associação Americana).


Se durante a atividade desportiva ocorrerem intervenções terapêuticas do CDI (choques ou pacing anti-taquicardia), o doente deve parar por um período não inferior a 6 semanas.


Não devemos também esquecer, que desportos em que a ocorrência de tonturas ou de pré-síncope (“quase desmaio”) exponham o doente ou outros participantes a riscos adicionais, devem constituir igualmente uma contraindicação.


Na pratica diária, recomenda-se que o atleta deve conhecer o seu “cut-off” de frequência cardíaca para as terapêuticas do CDI (considerar a utilização de monitor de frequência cardíaca, mantendo 20 batimentos abaixo do limiar) e sempre deve ser suspenso o exercício físico, caso haja a ocorrência de choque do CDI (mesmo sem perda de consciência, não deve ser retomado o exercício sem analise do CDI e avaliação clínica).


Naturalmente que um pacemaker ou um cardioversor-desfibrilhador não deve ser implantado com o objectivo de permitir a participação desportiva. Actualmente as recomendações sobre participação em actividades desportivas, estão em reavaliação, considerando a comunidade científica Arritmologica, que são essenciais para o futuro a existência de mais dados de estudos observacionais, de forma a que a decisão seja sustentada em evidência clínica..


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